05 agosto 2013

Ausências que me fazem companhia


E quando nada mais parece fazer sentido e o vazio se torna audível, você se permite sentir a tristeza. Ela te conforta, anunciando um fim para os seus problemas, prevendo uma escuridão total em vez de metades de luz. Metades são agoniantes, o eterno sentimento de estar no meio de uma bifurcação e não saber que caminho seguir, dúvidas sempre foram as respostas. Por isso ela se deixava ser tomada pela tristeza, não a temia. Tristeza é como um poema decorado, uma rotina, um vício, quando você se familiariza por ela percebe que ficar triste é um método de fuga. Tristeza é como uma dor muito forte, no começo você sente, mas depois você entra em um estado dissociativo, como se seu próprio corpo estivesse fabricando morfina para aquela dor invisível, então você deixa de sentir. Deixa de sentir a tristeza, mas deixa de sentir também a vida.

É uma droga, essa conformidade, sabe? Um círculo vicioso. Por mais que você fique desesperado, algo lhe repete a mesma ladainha, que nada irá mudar, deixe então a tristeza te levar. E você deixa. Deixa que ela invada seu corpo e abuse dos seus sentidos, lhe faça de boneca de pano, te dobre, estique e espreme. Você não é você. E enquanto esse torpor durar, você estará salva. Porque algumas dores são redenções. E dói tanto que você já não é capaz de sentir mais nada.

Mas isso também é efêmero. As vezes a tristeza se entrelaça com a loucura, a agonia. E de triste você passa a ser também suicida, carente e sacana. E você sente novamente. De uma maneira muito mais forte agora, a falta de sentido deixa de ser um calmante para virar um terror lhe assombrando as entranhas. Há contradição em cada parte do seu corpo, enquanto você se finge de cego. Sentir se torna quase insuportável, e o ceticismo faz sua morada. Sentir é pedir socorro e ao mesmo tempo afastar quem vier ajudá-la a sair do abismo. Somos egoístas, engolimos nossos medos para depois vomitarmos na cara de quem se aproximar.

Sentir é fugir, querendo ficar. É chorar querendo berrar. É xingar com palavras duras achando que são elogios. O meu sentir é incoerente e flerta com a loucura. E aquele vazio que de dia lhe abraçou e protegeu, agora te destrói e dilacera. Assim como você faz com os outros. A dor que você quer infingir muitas vezes é aquela que você sente demais. Então você começa a fugir de si mesmo, ao mesmo tempo que corre para a tormenta. Mas você sabe a verdade o tempo todo, porque embora sua sanidade tenha pulado de um prédio, ela ainda vive. É como a lenda do pássaro com o espinho cravado no peito e segue uma lei imutável pois não há consciência nele do morrer futuro, então limita-se a cantar e a cantar até não lhe sobrar vida para emitir uma única nota. Só que nós, quando enfiamos o espinho no peito, bem sabemos. Compreendemos. E mesmo assim fazemos. 

Existem pessoas que vivem fragmentadas, a emoção, a razão, o saber e a compreensão trabalham de maneira separada. Como máquinas, só que sem ligação ou com uma ligação muito falha. Então quando você se apunha-la, compreende tal ato, mas não é capaz de impedir. Luta com seus demônios sabendo que são partes de você e acaba se atirando no abismo tentando se salvar. 


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