04 julho 2013

Quando Dormir Não é Opção

Estou fora de mim. Minha cabeça está girando, meus olhos estão nublados e quase se fechando. Só vejo neblina e claridade. Claridade que me machuca e faz arder ainda mais minha cabeça. Sinto meus olhos doerem e coçarem, mas sei que não se trata de nenhum cisco, é minha visão brincando comigo. Estou pálida, cada vez mais pálida, sinto que estou quase ficando transparente e que logo não restará mais pele para me proteger.

Estou com calor. Um calor estranho e irritante, que vem de dentro e não de fora, como uma febre. É o meu corpo lutando contra mim, eu sou o vírus a ser combatido. Meus pés e mãos estão gelados, a temperatura indica frio, mas porque então eu sinto esse calor? Eu quase posso perceber o calor percorrendo meu corpo, subindo pelo meu pescoço, acariciando minha pele, inchando minha boca, tornando minha pele em tons vermelhos. Meu rosto agora está em chamas, sinto minha cabeça pesada, meu coração parece estar batendo em meus lábios. Mas as extremidades do meu corpo continuam geladas e mais pálidas que o resto, como se o sangue se esquecesse de circular por ali. Coloco minha mão em meu rosto, sinto o choque de algo extremamente gelado em algo muito quente, alivia por pouco tempo.

Vou na frente do espelho, percebo que meu pescoço, ombros e peito estão se tornando da mesma cor que o meu rosto. Como uma alergia observo o vermelho espalhado sobre meus seios. Minha pele se torna quente nas áreas avermelhadas, enquanto o restante está tão gelado quanto gelo. Antigamente, quando eu era criança, todos achavam se tratar de alguma alergia ou gripe, me levavam em consultas mas nada existia. Pararam quando perceberam que minha alergia costumava surgir sempre, sem qualquer motivo, nem ao mesmo nervosismo aparente. Era algo inesperado.

Começou a chover. Fecho os olhos e desejo que essa chuva aumente até virar uma tempestade, e que tenha raios e relâmpagos bonitos. Vou mais além, desejo que seja o fim do mundo, que tudo alague e todos morram. Seria lindo e digno de filme.

Eu preciso dormir, teria que dormir. Mas algo dentro de mim não quer. É a tal febre que está me comandando, e nessas horas eu não posso dormir. Como dormir se seu corpo pega fogo mas está morrendo de frio? Como dormir se quando fecho meus olhos o mundo parece girar?

Descubro, por fim, que não possuo um problema que possa ser nomeado, porque meu problema não é específico. Compreendi já faz um tempo de que faz parte de mim criar um bom drama, e no momento que eu os crio, perco o controle das minhas próprias criações, e o que era invenção, vira subitamente realidade. Como se o fato de pensar já me tornasse culpada. 

Culpada.

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