12 fevereiro 2013

Vocês não sabem o que é ter olhos em um mundo de cegos

Eu diria que é um clássico. Com certeza você já ouviu falar desse livro e do escritor dele, José Saramago, e tenho quase certeza que você não leu porque pensou ser chato e diferente dos livros que estão fazendo sucesso ultimamente. Esqueça essa merda e leia esse livro! Sim, a linguagem é mais complicada, eu por exemplo, li na versão de português de Portugal e havia algumas palavras estranhas, sem parágrafos e assim vai, isso me irritou, mas o livro fez valer a pena.

Livro: Ensaio Sobre a Cegueira
Escritor: José Saramago
Páginas: 310
Nota (de 1 à 5): 4

Dizem os críticos, que o livro é deprimente, e sim, ele é, e esse fato só melhora a história, só a torna mais real. Livros tem que te atingir de alguma forma, seja aquele romance engraçado que lhe provocou risos ou como no caso desse livro que fez você pensar, refletir, sentir que o mundo é uma droga, etc. Eu gosto de textos deprimentes, crus e reais, sem fantasias de perfeições ou alegrias. 

Ensaio sobre a cegueira é uma crítica de uma sociedade cega, egoísta e, ainda, animal. Mostra como o homem pode ser mesquinho e esquecer todos os valores apenas por ambição e poder. Eu chamo livro de abstrato, porque é para ser interpretada além da história original, é para entender os reais significados e valores que a história literal conta.

Tudo começa com uma doença, é a cegueira, e aos poucos todos vão ficando cegos, como uma epidemia. O ser humano não sabe lidar sobre pressão, então galera vai ficando louca mesmo, se tornando quem realmente são embaixo de todo aquele verniz civilizado. Apenas uma pessoa continua com a visão, e ela faz o que todos nós fizemos e fazemos, se faz de cega. Ela faz coisas idiotas e se humilha só porque estava fingindo ser como os outros, todos cegos. Ela é a unica que consegue ver toda a podridão que está ocorrendo e sabe que é errado, mas continua na sua farsa. 

Você também se faz de cego todo dia, eu também, vivemos cegos a maior parte de nossas vidas. E no livro, ao contrário do ditado "em terra de cego, quem tem olho é rei", os poucos que conseguem realmente ver preferem e fingem sua cegueira. O livro questiona e mostra outros tipos de cegueira, como a falta de esperança, amor, justiça, etc. O livro vai questionar e mostrar toda a merda que você é, que nós somos.

Não somos bons, não somos civilizados ou sequer temos senso de justiça, ainda lutamos com os desejos primitivos e emoções. É isso que o autor quer que você perceba e reconheça, sem mentiras. Os valores estão errados, estamos todos de olhos fechados sem perceber, e o que o livro tenta é fazer você refletir sobre isso, abrir os olhos e finalmente ver.

Alguns trechos:


Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.

É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade.

Alegria e tristeza não são como óleo e água. Elas coexistem¨

- Cabelo preto, olhos castanhos…- Não quero saber como você é.- Então como vamos nos reconhecer?- Conheço a parte dentro de você que não tem nome. E é quem somos.

Não achou resposta, as respostas não vêm sempre que são precisas, e mesmo sucede muitas vezes que ter de ficar simplesmente à espera delas é a única resposta possível.

Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa, e tem na mão todas as cartas do baralho, a nós compete-nos inventar os encartes com a vida, a nossa.
As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem aonde querem ir, e de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjectivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos, às vezes são os nervos que não podem aguentar mais, suportaram muito, suportaram tudo, era como se levassem uma armadura.

Por que foi que cegamos? Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso? Diz, Penso que não cegamos,  penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que, vendo, não vêem.

Cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.

Se antes de cada ato nosso, pudéssemos prever todas as consequências dele, e pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis… Não chegaríamos sequer a mover-nos porque o nosso primeiro pensamento nos teria feito parar!

É que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos.

*Imagens daqui.

Um comentário:

  1. Oi Yasmin,

    Realmente esse é um livro cru e forte, nos revela coisas que nos deixa chocados. Muito boa sua resenha, parabéns. Obrigado pelo convite no skoob para conhecer seu blog.

    Também a convido para conhecer o meu http://amagiareal.blogspot.com.br/

    Beijokas elis

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