11 fevereiro 2013

Living Dead Girl

Living Dead Girl é um livro de Elizabeth Scott, aqui no Brasil tem a tradução de Menina morta-viva e já está disponível para venda. É uma leitura pesada, crua, real, o estilo de escrita que mais aprecio, porque me faz sentir, e quando se trata de livros e histórias acredito que os melhores livros são aqueles que mexem conosco, seja da forma engraçada, triste, etc. E foi isso que aconteceu com esse livro. Primeiro temos um tema tabu, embora recorrente infelizmente na nossa realidade, que é a pedofilia, é um tema que pode ser muito explorado e não serve apenas como informação, mas como ensino pois pedofilia não é um vampiro ou uma bruxa, ela é real e provavelmente está mais perto do que você imagina.

Título: A Menina Morta-Viva
Autor: Elizabeth Scott
Páginas: 172
Nota (de 1 à 5): 4
Lido como ebook.


A história é narrada por Alice (que na verdade não é o nome dela, mas não vem ao caso) que é uma adolescente de 15 anos que havia sido raptada aos 10 anos e vivia desde então com seu sequestrador que a estuprava e a feria psicologicamente e fisicamente todos os dias.

A escrita são como os pensamentos dela, e como alguém que foi violado desde criança você pode imaginar que não é algo bonito, seus sentimentos se confundem e em alguns momentos não deixei de pensar que a maldade parece uma doença, ela já estava com seus pensamentos tão confusos que muitas vezes chegava a ter algumas características e pensamentos do seu próprio sequestrador, que por sua vez, era um homem muito perturbado  havia sido também molestado e ferido quando criança, dava para sentir a maldade dele, como se ele fosse apenas isso e cada vez que estuprava Alice, ele passava um pouco disso para ela e ela sabia isso, sentia isso e também confessava seus sentimentos sombrios, como o de ajudar a capturar outra garotinha para seu sequestrador para que ele estuprasse essa garotinha em vez dela. Embora ela sentisse o mal e como estava ferida psicologicamente e mesmo com tanta tristeza e maldade no livro, ela consegue fazer sua escolha (que eu contaria aqui mas daí vou acabar contando um dos principais fatos do livro).

Não é um livro longo, na verdade esse foi um ponto que não gostei, os capítulos são pequenos e enquanto alguns momentos são descritos com detalhes outros são meramente mencionados. Alguns fatos são repetitivos, mas não é algo que eu critique exatamente já que uma menina perturbada iria ter pensamentos conturbados e repetitivos também, uma narrativa perfeita estragaria o tom real do livro. 

O final poderia ter sido mais explorado, e quando você acaba pensa 'droga, esse é o fim?', mas depois vem aquele pensamento 'o fim combina com o resto do livro, talvez um fim mais elaborado estragasse a crueza da história no geral'. Acho que a autora poderia fazer uma continuação no mesmo estilo, mas acho que não será o caso desse livro, geralmente eles são únicos  como se escrever mais fosse romper a história ou algo assim, em alguns casos pode ser, em outros não.

"A escuridão estava pressionando contra meu corpo como o Ray faz durante a noite. Impossível de parar. A noite é assim. O Ray é assim. E não sou nada contra eles. Contra ele. Eu nunca fui. A pequena Alice, completamente vazia, tão fácil de ser quebrada em milhões de pedaços. Eu já fui quebrada e remendada tantas vezes que nada mais funciona direito."  

Como percebem pelo trecho acima, não existe palavras sexuais e atos detalhadamente explícitos  mas deixa claro o que está acontecendo e o que a menina sentia no momento, e isso torna o livro mais perturbador ainda.

" - Você vai vir para casa? 
- Eu vou para casa. - Eu falei. 


E foi quando eu soube que nunca mais iria para casa, aquela era somente uma palavra, que não significava nada. Naquela época eu senti o que era uma perda, e foi como morrer. Eu estava morrendo, e quando Alice nasceu, aquela pequena garota de contos de fada, que há muito tempo eu fui, desapareceu. Ela se tornou uma história, uma que quase esqueci completamente. Uma que não posso terminar, por que ela morreu há muito tempo atrás."  

Esse trecho foi um dos que mais mexeram comigo, perceba o momento em que a escuridão nasce dentro dela, em que a infância e inocência foi roubada, dá pra sentir  com ela isso, a própria morte estando viva. Ela mesma se auto divide em duas pessoas, a pessoa que ela era antes de ser raptada e a que ela se tornou agora, como se fossem duas pessoas distintas.

Sinopse: Era uma vez, eu era uma menininha que desapareceu.
Era uma vez, o meu nome não era Alice.

Era uma vez, eu não sabia como tinha sorte.
Quando Alice tinha dez anos, Ray levou-a de sua família, seus amigos, de sua vida.
Ela aprendeu a desistir de todo poder para suportar toda a dor. 
Ela esperou que o pesadelo acabasse.
Alice agora tem quinze e Ray ainda a mantem com ele, mas ele fala mais e mais da sua morte.
Ele não sabe que isso é o que ela anseia.
Ela não sabe que ele tem algo mais assustador do que a morte em mente para ela.
Esta é a história de Alice.
É uma que você nunca ouviu falar, e que você nunca, jamais esquecerá.

A sinopse é muito boa também, foi isso que me atraiu em um primeiro momento pois dá pra perceber que se trata de um livro forte, real, cru e confuso, que nessa história contribuiu para melhorá-la, uma história linear e pensamentos limpos transformaria a história em uma fraude pois a narradora sendo uma pessoa perturbada emocionalmente a sua narrativa também deve ser, e nisso a autora acertou em cheio.


Foi um dos melhores livros que li, vocês podem achar estranho o fato de um livro tão pesado me agradar, mas não é isso, é a narrativa, os sentimentos, a realidade. Não existe fantasias, não existe romances nem finais perfeitos, apenas a realidade confusa de uma menina machucada. É o tipo de livro que te tira do seu mundo e transporta para os sentimentos do protagonista, a maioria não gosta disso, já eu é uma das coisas que mais valorizo nos livros, o fato de me fazer sentir o drama, ou a piada ou a tristeza, não importa, apenas que me faça sentir.

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