26 março 2011

3096 dias - Natascha Kampusch

    Esse foi um dos livros mais dolorosos e interessantes que já li. Natascha Kampusch foi sequestrada em 1998, quando tinha 10 anos, e permaneceu 8 anos em cativeiro, quando finalmente conseguiu fugir, foi um dos sequestros mais longo de que se tem notícia. O livro 3096 dias conta as suas experiências no cativeiro, seus sentimentos, como era o sequestrador e como tinha personalidades variadas e confusas. Natascha é um exemplo porque não se permitiu o "rótulo" de vitima e fez questão de mostrar como era forte e como sobreviveu tantos dias de terror. Abaixo segue alguns trechos do livro:

   " Nos dias seguintes as surras aumentaram. O sequestrador passou a me trancar com mais freqüência, e eu deitava na cama coberta de hematomas, lutando comigo mesma. Eu não podia me deixar consumir pela dor, não podia desistir, não podia me entregar ao pensamento de que a prisão era a melhor coisa que me acontecera. Tinha de repetir pra mim mesma que eu tinha sorte por estar viva com o sequestrador, apesar dele dizer isso constantemente. Suas palavras caíam sobre mim como armadilhas. Sempre que eu deitava no escuro consumida pela dor, sabia que ele estava errado. Mas o cérebro humano rapidamente suprime o sofrimento. E no dia seguinte, ficava satisfeita por me submeter à ilusão de que ele não era de todo o mal por acreditar em seus devaneios. [...] Nessa época comecei a escrever mensagens curtas pra mim mesma. Quando você vê algo branco e preto, as coisas se tornam mais tangíveis. Elas se tornam realidade em um nível do qual seu pensamento tem mais dificuldade para escapar. A partir de então, passei a escrever sobre cada surra, de maneira sóbria e sem emoção. Ainda tenho esses registros.[...]
   20 de agosto de 2005. Wolfgang me bateu pelo menos três vezes no rosto, me deu uma joelhada no cóccix umas quatro vezes e uma vez no púbis. Ele me forçou a me ajoelhar diante dele e me cortou com um chaveiro no cotovelo esquerdo, fazendo um hematoma e uma lesão com secreção amarela. Então veio a gritaria e o tormento. Seis socos na cabeça.[...]"
    Pág 177 e 178
   " O suicídio parecia um tipo de liberdade suprema, uma libertação de tudo, de uma vida que já fora há muito arruinada. 
    Naquele momento, eu não quis ter dito essas coisas. Mas agora já havia dito: eu fugiria na próxima oportunidade. E um de nós não sobreviveria" 
   Pág 205 (Wolfgang Priklopil, o sequestrador, se suicidou jogando-se na frente de um trem em movimento um dia após a fuga de Natascha.)
  No trecho a seguir Natascha, depois de liberta, fala o que pensa em relação a sua experiência e o que isso provocava nos outros.
   " A simpatia oferecida a vitima é enganadora. As pessoas amam a vítima apenas quando se sentem superiores a ela. [...] Resisti a todo lixo psicológico e as fantasias obscuras de Wolfgang e não me permiti ser dominada. Agora eu estava do lado de fora, e era isso que as pessoas queriam ver: uma pessoa enfraquecida, que nunca se recuperaria e sempre dependeria da ajuda dos outros. Mas, no momentos em que me recusei a carregar a marca de Caim pelo resto da vida, o humor mudou.[...] 
   O que as pessoas menos toleravam era que eu me recusasse a julgar o sequestrador de modo como o público esperava que eu fizesse. Ninguém queria ouvir que não há mal absoluto nem preto e branco. É claro que o sequestrador roubara minha adolescência, me trancara e me atormentara - mas, durante os anos mais importantes, dos 11 aos 18, ele fora a unica referência em minha vida. [...] Assim que comecei a pintar uma imagem mais nuançada do sequestrador, as pessoas disfarçaram e desviaram a atenção; Todos se sentem desconfortáveis quando categorias como o Bem e Mal começam a ruir e é preciso aceitar o fato de que o Mal personificado tem um rosto humano. O lado escuro não cai simplesmente do céu, ninguém nasce um monstro. Somos formados pelo contato com o mundo, com as outras pessoas, e é isso que nos torna quem somos. Temos portanto, a responsabilidade final pelo que acontece em nossa familia, em nosso ambiente. Admitir isso para nós mesmo não é fácil.   E mais difícil ainda é quando alguém segura um espelho e nos obriga a enxergar. Com meus comentários, botei o dedo na ferida, e , com minhas tentativas de discernir o lado humano por trás das aparências de torturador e senhor limpinho, despertei a incompreensão.[...]"
    Pág 219, 220 e 221.


2 comentários:

  1. EU NÃO CONSIGO COMPRAR ESTE LIVRO DELA, ALGUÉM SABE UM SITE SEGURO QUE VENDA JÁ TENTEI NO SARAIVA MAS NÃO CARREGA A PAGINA.]

    ResponderExcluir