12 outubro 2010

Sorvendo o desgosto

         Ela sempre se achara infantil demais para a idade, não que não tivesse evoluído, evoluíra, mas apenas em palavras e teorias, não na prática e nos atos. Se via perdida entre o real e o imaginário, era como Alice sem o país das maravilhas. Com o tempo precisou endurecer para que não morresse, jamais perdeu a ternura, mas isso ficava em camadas profundas em baixo da pele, só saltava pelo olhos quando se esquecia, como quando olhava para a lua e lhe escapava um sorriso ameaçado, que logo era engolido pela fome, pela realidade, pelo peso dos dias.
       Escrever era uma tortura imensa para a pequena menina, para escrever você precisa viver e amar, sem o verdadeiro amor as palavras não brotam, elas morrem no desalento das emoções, e o que era pra ser um texto se transforma em algo como uma carta de despedida. Escrever é difícil pra quem busca a perfeição, porque as palavras só transcrevem os defeitos.
      "- Porque não escreves?" Perguntavam a ela.
      "- Porque meu coração está mudo." Respondia sem pensar.

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