01 outubro 2013

Guerras Íntimas


Mas ninguém sabe das minhas guerras. Das batalhas intermináveis que insistem aqui dentro. Nem todos os olhos são espelhos da alma, os meus são enganosos, as vezes acredito serem da oposição. Você pode acreditar ver uma alegria genuína neles, mas se não prestares bem atenção não poderás escutar as bombas que explodem dentro da minha alma, e das granadas que estouram em silêncio enquanto solto a respiração. Ninguém sabe que em dias de guerra Renato Russo jamais esteve tão certo ao proferir que cada estrela parecerá uma lágrima. Meus sonhos são mortos pelo gatilho e ouço os estilhaços caírem ao chão. Tento esconder o conflito e instaurar a paz, mas nem sempre é possível, e sempre é exaustivo. É triste lutar em uma guerra obrigada, onde você sabe que não saíra vencedores. Só vencidos.

Tento que minha guerra não atinja pessoas inocentes, mas elas são pegas as vezes, e sinto o peso de cada uma delas a me afogar. Uma alma pesa bastante sabe? Um momento perdido, por mais que sejam só alguns momentos, me pesam demais. Ninguém nunca se acha em combates afinal querido, só se perde. Entenda agora o porque mal nos encontramos e já estamos nos perdemos. Essa é minha guerra. 

Ninguém entende das flores que tentam sobreviver todos os dias em meio ao meu caos. Ou dos passarinhos que fogem das minhas sirenes. Das famílias destroçadas e desejos aniquilados. Estrelas cadentes que deram lugar para bombas. Do cheiro de infância morta naquele uniforme velho. De como minhas pernas ficam fracas mas permanecem em pé porque ainda não quero desistir, porque ainda existe uma pequena parte de mim que acredita na restauração da paz aqui dentro. Essa pequena parte de mim que suspira quando os tiros silenciam e é possível olhar o céu. Uma voz que quase grita por uma liberdade inventada. Mas livre e sincera. Porque por mais que eu viva em guerra sonhos ainda nascem comigo todos os dias, e eu os vejo morrer todas as noites, fracos e tristes. Tenho túmulos para cada um deles. Mas eles ainda nascem e eu ainda acordo. E é por isso que a paz ainda grita no meu peito, uma voz que nem minha própria ditadura pode impedir. É a voz de quem acredita no poder dos sobreviventes, acende velas para os sonhos emoldurados nas paredes e ainda escreve porque acredita que poesia pode superar holocaustos. 

Você sabe o que cada livro lhe conta, mas não aqueles mínimos detalhes e histórias que se perderam entre canhões e espadas, não cada sentimento vivido e suportado. Assim também é conosco. Sempre existe uma guerra cósmica atrás de nossas pupilas, com dores e sonhos tão grandes quanto a vida de alguém. Mas ninguém sabe de nossas guerras internas. Ninguém se comove com elas. E só nos resta sofrer em silêncio e sobreviver a mesma luta todos os dias. E ninguém é covarde ou corajoso por decidir interromper sua guerra antes. São lutas diferentes, todas importantes, nenhuma possível de julgamento. Não por nós. Não sei por quanto tempo aguentarei, é quase como cultivar flores em terras áridas, um dias elas não sobreviverão mais. Mas enquanto elas brotarem, continuarei suportando minha guerra.

Esse texto é em homenagem a quem trava guerras diárias contra si e dentro de si. Por que ninguém jamais entenderá nossas explosões e o quanto elas ardem ou como é difícil forçar um sorriso depois delas. Ou cada lágrima que seguramos pelos nossos sonhos mortos todos os dias sem levantarmos suspeitas. Somos guerreiros, mas ninguém sabe disso. 

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