25 agosto 2013

Voar para Viver

Enquanto a maioria sonhava com ganhar um casa de bonecas, uma bicicleta nova ou tirar 10 na prova de matemática, Alice tinha um desejo diferente. Queria voar. Sonhava que um dia sobrevoaria o mundo. Seria finalmente especial e diferente. Personagem principal do seu livro favorito, protagonista da sua vida. Seria leve como uma folha e deixaria o vento a levar, a deriva, sem rumo, sem rima, sem chegada e nem partida. Seria embalada no vento, e no meio desses pensamentos quase podia sentir o doce sabor da liberdade. Doce como algodão doce. Bem clichê mesmo. Liberdade sempre foi açucarada demais para Alice, e derretia na boca. Voar deveria ser doce também, pensava. 

Cultivava asas invisíveis, e podia sentir quando estavam crescendo. Estipulou uma data. Até os meus 10 anos eu voarei. E ninguém jamais vai me deter. Não precisaria mais ter vergonha de seus olhos indomáveis, nos quais as lágrimas nunca soube controlar. Lá do alto, suas lágrimas virariam pingos de chuva que alguém se alegraria em ver. Ninguém jamais saberia que seu desejo de voar era uma maneira de mascarar um abismo insondável que vivia dentro dela. Se Alice soubesse voar, ninguém temeria cair no abismo dos seus olhos porque voariam com ela.

Pequena Alice, que ao completar dez anos descobriu que jamais voaria. Que jamais estaria segura no alto do céu, no meio das nuvens. Que voar era um sonho tolo de criança e que a terra seria para sempre o seu lar, e o seu túmulo. Alice, que nunca conseguiu controlar suas lágrimas indomáveis, e até hoje, quando alguma lhe foge dos olhos, pode escutar de longe o grito que sempre lhe assombrou:

_ Pare de chorar filha ou te jogo pela janela!

E Alice ainda espera pela queda. Aquelas mãos lhe atiram no abismo todas as noites, e a devoram. Antagônicas. Sinônimas. Corroem as entranhas e roubam coerências. Belas damas. Belas Bestas. Loucura expondo sua vaidade.

Não existe escapatória e Alice ainda não aprendeu a voar.

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