20 abril 2012

Cecília

Cecília, assim era seu nome, um tanto poético demais para ela, que sempre preferia as palavras cruas, sem rima, sem cuidados, sem receios. Nasceu em uma família classe média, como tantas que vemos por aí, tímida mas extrovertida em seu mundo, fazia passeios imaginários enquanto seus amigos brincavam longe dela. Ninguém sabia dizer o porque era tão afastada de tudo e de todos, porque tinha tantas perturbações inexplicáveis, parecia já ter vivido em outros séculos mais amargos, em outros tempos, de guerra e de dor. Conformaram-se. Cecília era diferente e ninguém se importava com isso. Vivia seus dias sem nenhuma surpresa, sem nenhuma novidade, seguia a rotina de não fazer nada, de não ser nada. Não que ela não fosse feliz ou não gostasse da vida que tinha, ela apenas não era como as outras, não entendia o mundo da mesma forma e sentia falta de algo, como se lhe faltasse uma parte, um pedaço de si, amava seus pais, mas era distante, como se um abismo sempre a separasse das outras pessoas, como se o seu psicológico fosse ao contrário da aparência sadia que apresentava. 
Em um fim de semana qualquer falou aos seus pais que planejava um almoço com seus amigos na sua casa, algo banal para todos, mas não era para ela, seus pais felizes pensaram que finalmente a filha havia conseguido amigos, estava se enturmando, estava sendo uma pessoa normal, na semana passada ela até havia se inscrito em um curso e pretendia voltar pra faculdade. Assim deixaram Cecília sozinha naquele fim de semana. 

As 15:30 da tarde ouve um chamado na delegacia da cidade, policiais e ambulância se dirigiram para o local informado pelo anônimo, talvez apenas mais um trote mas era preciso se certificar. Bateram na porta do apartamento, ninguém atendeu, se seguiram sucessivas batidas sem nenhuma resposta. Então, quem sabe, a denúncia era real, arrombaram a porta, sem mandato, cientes de que se não fosse algo de vida ou morte sobraria para eles. Sorte ou não, era.
Na porta do banheiro dos fundos se encontrava uma plaquinha "Não entre, elevados níveis de monóxido de carbono". Então era verdade. Tarde demais, encontraram o corpo de uma jovem, sereno e intacto, como se dormisse em um sono pesado mas sem pesadelos. Ela era Cecília. Na carta, deixada do lado de fora do banheiro, havia as seguintes palavras: "Desculpe pela bagunça, precisava partir, esse nunca foi o meu lugar. Algo me chamou, e eu fui."

Baseado em uma história real.

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