05 novembro 2011

Da primeira pessoa do singular

Faz tempo que não me arrumo mais, e mais tempo ainda que não corto meu cabelo, ou sequer entro em um salão de beleza (nome um tanto idiota, sempre me senti mais feia quando saía de lá). Não uso saltos, nem vestidos, ou qualquer roupa que mostre demais a minha palidez. Tenho evitado encontros familiares à anos, e me afastei de todas as pessoas que conheci. Hoje posso dizer, com pesar, que não tenho nenhuma amigo de verdade. 
Não entrei em uma faculdade e muito menos comecei a trabalhar. Meu corpo continua o de uma criança, e boa parte de mim também. Sou um tipo de Peter Pan velho demais. Me cobram resultados, amores, conversas, atos. Esperam uma mudança de mim. Esperam que eu me arrume e corte o cabelo, me torne mulher com salto e vestido, tenha amigos e algum trabalho, que festas façam parte da minha rotina, que eu coma de maneira saudável e que não fale mais palavrões.
E nada disso parece fazer sentido pra mim. Nada disso me parece racional.
É que eu sempre soube, meu mundo não é aqui.

"Não se enganem, inspiração é um dia frio de inverno, não brilha, não esquenta, não trás sossego. Despedaça."


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