30 junho 2011

Alter ego

    Tentava desesperadamente sentir, queria o fogo dos sentimentos lhe queimando por dentro, queria sentir o gosto de suas lágrimas e a euforia de uma felicidade instantânea. Um dia ficou de pé na beirada de uma sacada em um prédio muito alto, queria admirar o abismo, sentir a vida no seu coração, o tremor e o sentimentos de sua vida se esvaindo, só para lutar por ela. Nunca quis morrer porque nunca soube oque era viver. 
   Podia passar dias deitado na sua cama escutando rock e vendo filmes idiotas, os de terror eram os seus preferidos, só porque tinha um certo prazer sádico no medo, talvez por nunca tê-lo sentido realmente, e admirava os filmes de drama como se a dor fosse um espetáculo e ele o espectador convidado.
   Certa vez acharam que partiram seu coração, e ele riu dos bastidores ao saber que tal proeza jamais seria feito, não possuía coração, podia sentir suas batidas mas não conseguia sentir as emoções. No mundo as pessoas tentam esconder o quão frágil elas realmente são, mas ele tinha outra missão, esconder o quão frágil ele não era.  Lembro quando me disse que fingia estar sempre sozinho, mesmo quando uma multidão o cercava, a solidão era a única coisa que lhe compreendia, ele aprendeu a se desligar do mundo já que o mundo nunca se ligou nele. Se eu acreditasse em religiões eu o chamaria da visão perfeita do limbo, algo entre o céu e a terra, entre o bem e o mal, desprovido de emoções e carregado de críticas destrutivas. Vocês com certeza o manteriam longe, mas eu? Eu gosto de mantê-lo sempre por perto, talvez porque ele viva dentro de mim, seja metade de mim e tome conta do meu corpo quando quero sumir. Meu pequeno alter ego indeciso.


   Alter ego ou alterego pode ser entendido como outro eu, outra personalidade de uma mesma pessoa.

2 comentários:

  1. Seria clichê se eu falasse o quanto ficou maravilhoso este texto?
    Adorei está passagem: "Nunca quis morrer porque nunca soube oque era viver."
    Acho que todos nós temos dentro da gente um alterego, por vezes é difícil deixá-lo sair, porque não sentir nada é mais doloroso do que sentir tudo.
    Um ótimo texto para se ler, parar e refletir, sobre a gente, as dores, os amores, os medos e o nada.

    Me encontre no twitter, se quiser: www.twitter.com/isgabisf

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