20 maio 2011

Sobre prólogos e epílogos da vida


Primeiro ato: A vida lhe escorria. Sempre que se tenta segurar algo para si, ela foge, pois nada nos pertence. Vagamos na procura de quem somos e morremos sem no entanto encontrar as respostas, sabe por que? Respostas nunca foram importantes, tudo se resume na pergunta. E olhava o vazio na esperança de se desfazer também, queria se preencher, esvaziando. Por isso, antes desse primeiro ato, no prólogo, ela se desfizera de todos os sentimentos, dores e amores, e sobrou o nada. O nada que sempre lhe resumiu.

Segundo ato: Fitou então a caixa de remédios. Não procurava solução, procurava desaparecer. Não queria morrer, queria sumir. Não queria renascer das cinzas, queria poder se desmanchar nelas. Sabia que algumas pílulas nunca seriam suficientes, mas precisava fazer algo pra matar, nem que seja um pouco, do tremendo vazio que lhe restara. Caminhou em passos lentos, quase parando. A mente dizendo não, a alma implorando por ajuda. Calculou mentalmente quantas pílulas seriam necessárias. Decidiu tomar todas. Mas parou após engolir 30 comprimidos.

Terceiro ato: Deitou na cama, sentia o vômito da sua vida subindo pela boca, resistiu. Abraçou com cuidado o ursinho mais macio que tinha. Nunca lhe passara pela cabeça que ursinhos fossem para brincar ou serem abraçados, gostava de apenas observá-los na penumbra de seu quarto. Estáticos, sinal que a beleza provém de coisas mortas e inanimadas também. Mas aquele era um momento bom para um abraço. 
Na falta da vida, abraçou a morte. 


Não, ela não morreu. Mas conseguiu matar um dos tantos "eus" que lhe pertenciam. Faltam muitos ainda.

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