29 março 2011

Escrever é uma maneira de morrer

     Chegava silenciosamente, mas transpirando ansiedade. Sentava na poltrona sem cor como quem senta em um formigueiro. Não é fácil abrir o coração, mesmo que uma face gentil lhe garanta que tudo ficará bem. O problema não é contar o que se sente e sim que palavras usar quando não existe nenhuma que realmente se encaixe no enredo escrito dentro de você. Por isso uma boa dose de ironia sempre alivia as tensões, a questão é ver pelo prisma da pessoa que lhe pede, olhando de fora todos os sofrimentos podem ser banalizados. Era isso que fazia. Banalizava a si mesma e sorria levemente quando dava certo, isso significava que o momento havia passado sem que de memórias extraísse a vida.
     Falava palavras como que cuspindo angústias que tão pouco alguém percebia. A face gentil na sua frente lhe diz sempre a mesma coisa clichê de quem também não sabe o que dizer. "Você precisa fazer alguma coisa, tentar." A menina pálida escutava sem prestar atenção, palavras decoradas nunca funcionaram com ela. Mas, mesmo assim, assentia afirmamente sem expor dessa vez sua opinião, quando as pessoas não são capazes de interpretar suas frases tão pouco se importarão com alguma opinião mais, ou a menos. E o encontro se encerra ali, sem nenhuma das duas terem realmente entendido algo. Ambas sabiam que quem fala corre o risco de não se fazer entender, ou pior, ser entendido da maneira errada, é a velha questão da interpretação e das entrelinhas em uma conversa. Mais uma vez ela saiu de lá se sentindo inútil enquanto a outra pessoa sentia-se impotente, mas rica, outro paciente estaria a sua espera.



Diante do medo um sorriso aeróbico

Nas bochechas a câimbra de uma alegria incompleta 
Nada como um sorriso burro e paranóico
Para não perceber a velocidade terrível da queda

Lobão


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