26 fevereiro 2011

Fragmentos de mim



     E o dia amanhece, e nas lembranças ficam apenas sentimentos vagos, cores nubladas, o vazio e o nada. O nada se tornara amigo íntimo, o sentia quase palpável, sorvia do seu vazio e apreciava a neblina cinzenta e fina que pairava sob sua vida. Materializava a solidão, embora nada sentisse, era acolhedor personalizar o invisível que a preenchia.
     A vida não é interessante. Não é boa, nem ruim. É transmutável e melhor caracterizada pelo tédio e momentos distintos felizes e tristes. Não fazemos nada interessante, não vivemos nenhuma aventura, não somos especiais, somos meras partículas em um mundo lotado delas. A vida parece emocionante apenas vista pelos filmes e livros, caracterizada pelas palavras e nas fotografias, na realidade ela é uma grade merda monótona.
     Ela sabia disso, e sentia-se cansada dessa vida sem cores, desses momentos mornos, da calma estampada nos gestos, desse templo nublado e das cores fracas e neutras que coloriam a sua vida. Queria a tempestade, o furacão, o medo a alegria e o amor intensos, ela própria era a tempestade e o terremoto, a duplicidade extrema. Chega de sentimentos tediosos, lhe interessa a loucura e não a lucidez. E que todos esses extremos se colidam e que seja belo e estrondoso essa colisão. Ela queria sorver aquela acidez que lhe corria as veias. Ela era a colisão.

     P.S: Cuidado, todas as minhas palavras tem um coração onde circula sangue. Manuseie com cuidado.

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