22 outubro 2010

Ela

Ela não tinha nome, podia ser Luisa, Teresa, ou até mesmo Clarice. Sua aparência era de uma jovem frágil aos olhos de todos, ingênua talvez, poucos viam a sua força que de vez em quando transparecia em seu olhar. Apesar da graciosidade, havia em seu silêncio interior o eco de súplicas sussurradas aos ouvidos do planeta. Não era das mais afortunadas no dinheiro, nem no amor, suas amizades nunca se prolongavam e o contato com os familiares se dissipou há medida que crescia, eles não se importavam, ela muito menos. Aquilo que outrora era tão certo quanto sua imagem refletida no espelho, repentinamente era destruído em estilhaços. Talvez fosse culpa dela provocar seus sofrimentos. Talvez devesse sofrer.

Procurava incessantemente resposta em livros que não lhe davam nada mais que pensamentos soltos, que depois se esvaiam com o vento. Sua história pouco encantava, e talvez não desse mais de duas folhas. Aos poucos foi tecendo uma vida sem preenchimento, se afogou em um mar de tristezas que ela mesmo havia provocado. Não sabia o que fazer, e , ao mesmo tempo, apreciava o tédio de não se fazer nada. Sua mente era um turbilhão de pensamentos. Carente de certezas sabia porém que as respostas nem sempre são bem.vindas, ou simplesmente são inexistentes. Ela, menina tão doce, pouco falava, emudecia sua fúria.

Precisou enfim endurecer para que não morresse, jamais perdera sua ternura, mas isso ficava em camadas profundas embaixo da pele. Mesmo destruída por dentro, ela ainda seguia, porque era preciso, porque era o destino, ou simplesmente porque não sabia como desistir.

Perdia-se no vão dos dias e esquecia das coisas vivas, não conseguia mais se expressar, apenas sentia o gosto amargo do vazio interior. Não entendia como o dias sobreviviam, talvez seja a falta de tempo que não os deixa perceber como é esgotante viver sobre a luz de um sol primaveril. Sofria do eterno-não-saber-o-que, por isso tinha os olhos tristes, por jamais poder de verdade conhecer sua dor, por não saber nomeá-la. Fechar os olhos era um exercício doloroso, precisava que vigiasse a vida, para que não morresse sem aviso prévio.

Concluiu que seu lugar não era aqui, que seu corpo e seus amores não lhe pertenciam, talvez não tivesse lugar, talvez ela fosse apenas um acidente despercebido. Não se importava mais com a opinião de estranhos, parou de expor seu ponto de vista que apenas ela compreendia. Não encontrava mais palavras, se sufocava nelas antes de serem ditas, e elas explodiam em lágrimas cristalinas e salgadas.

Então, sucumbira a si mesma. Naquele dia choveu, pequenas lágrimas de um mundo que podia ser o dela. Quando fechou os olhos na noite chuvosa, sentiu mergulhar na escuridão, quis nadar, sentir as gotas do "nada", absorver o que acordada jamais absorvera. Balbuciou palavras para si mesma, e por um triz quase se perdeu. Mas era preciso voltar, se abster de qualquer refúgio; era preciso ter coragem. E foi naquele momento, que em busca da morte, encontrou o suspiro da existência.




Ignorem a falta de título, e a confusão de cronologia e pensamentos. Ando um pouco (muito) dramática ultimamente.

2 comentários:

  1. Parabéns seu blog é muito bom! e seus textos...nossa me identifiquei muito, muito mesmo....eles são ótimos muito profundos nem sei explicar parece uma tradução literal dos sentimentos!! já li alguns livros que vc leu e outros tbm acho que vc vai gostar de um que se chama "Antes do baile verde" de Ligia Fagundes Telles. beijoo ps: Se um dia publicar um livro me avisa q eu gostaria de um exemplar! =)

    ResponderExcluir